Por
toda a volta os seres humanos resistem.
Por onde quer que nosso olhar se debruce
a vida persiste. As sentenças todas, a
humilhação e a dor, não são capazes
de deter a esperança, nem de exilar a
felicidade.
Por
toda a volta os seres humanos resistem.
Às vezes, se olharmos bem, parecem
anjos avessos. Anjos de pés fincados no
barro que entoam cânticos e que se
amam; anjos com asas surpreendentes que
contornam o frio; anjos caídos,
cobertos da poeira do céu e do inferno.
Por toda a volta há anjos assim, feitos
de luz e olhos. Há anjos pequenos nas
sinaleiras das grandes cidades; anjos
confusos, metade crianças, metade fome
e fumaça. Há anjos femininos que
sobrevoam os parques e que dão à luz
nos corredores dos hospitais. Há anjos
velhos esquecidos e desabrigado, há
anjos nus pelas florestas. Anjos que se
arrastam e anjos que sonham; anjos belos
e anjos feios; anjos com sexo que beijam
e nos acariciam. Por toda a volta há
anjos assim, feitos de boca e súplica.
. Pelas ruas há anjos que nos protegem
e anjos que nos perseguem. Há anjos
ébrios, anjos drogados; anjos que
partiram de si mesmos e anjos que se
partiram em pedaços. Há anjos com
botas, há anjos tatuados e anjos que
caminham de mãos dadas.
Alguns
entre nós, aprenderam a reconhecer
estes anjos e travam com eles a luta
mais importante. Sabem que os anjos
desejam, sobretudo, serem tratados como
seres humanos. Por isso, caminham
misturados no seu caminho, oferecem
acolhida aos seus movimentos e
constróem com eles uma renovada vontade
de voar. Alguns entre nós propõem este
encontro e seguem com seus corações
repletos de anjos que se ergueram e
cerraram seus punhos; anjos que possuem
nome próprio, anjos próximos que lhes
dão o motivo para prosseguir.
Lembremo-nos
dos anjos avessos que nos cercam. Que
eles sejam, todos, reconhecidos como
iguais e plenos de direitos. E que sigam
únicos, diversos, apaixonadamente
humanos.
Colaboração:
Cibele Menini |