Historinha
de amor pra
gente grande
Ana
Cláudia
Saldanha Jácomo
Contam
os anjos que me
inspiram que um
pouquinho antes
de materializar
o Seu Plano de
Criação da
vida humana e se
derramar no
coração de
todas as coisas
da Terra, o
Senhor Deus Todo
Poderoso
resolveu
repassá-lo,
ponto a ponto,
pela última
vez. E, ao
terminar o
trabalho,
sentiu, bastante
surpreso, que
ainda parecia
estar faltando
um detalhe, sem
nome nem cara,
em sua Grandiosa
Obra. Algo que
não havia sido
contemplado por
nenhum dos
incontáveis
milagres com os
quais dotaria o
homem e o
ambiente que
preparava para
acolhê-lo e
supri-lo em sua
jornada
evolutiva.
Como um poeta
que ao findar um
poema é tocado
pela vibração
de uma palavra
que não foi
dita, sem
conseguir
visualizar-lhe
as feições, o
Senhor Deus
intuiu a
ausência de uma
dádiva no
buquê de luzes
que ofertaria ao
homem para
perfumar sua
caminhada
heróica, que
trilharia até
tornar-se um
Mestre das
coisas que não
passam e
reunir-se a Ele
numa só
Consciência
Criadora.
O Senhor Deus
não sabia que
doçura era
aquela que
reclamava sua
Amorosa
Atenção, mas
pressentia que
se tratava de
algo
imprescindível.
De alguma graça
que deixaria uma
lacuna em branco
em cada
história
humana, caso
não existisse.
De mais um dos
presentes que
bordaria em cada
vida com os fios
da delicadeza
que utilizaria
em tudo o que
planejava ser
forte. Mas o que
poderia ser, Ele
se perguntava,
além das outras
tantas ternuras
que já havia
previsto bordar?
E o Senhor Deus
pensou, pensou,
pensou.
Relembrou cada
detalhe, cada
etapa, cada
riqueza,
pacientemente,
com todo o zelo
de Seu Coração
Criador.
Reuniu-se com os
Mestres que o
assessoravam no
Plano. Trocou
idéias. Ouviu,
atento, as
sugestões e
observações
que surgiram.
Mas nada do que
pensava e ouvia
atendia à Sua
Expectativa e se
aproximava da
resposta que
buscava desde
que aquela
intuição lhe
visitara. Que
traço, afinal,
poderia ainda
criar para
compor o
conjunto das
bençãos que
desenharia na
Terra? Que
beleza era
aquela que
murmurava em Seu
Ouvido sem
revelar-Lhe o
rosto?
Contam que, como
era costumeiro,
numa manhã o
Senhor Deus Todo
Poderoso estava
distraído no
jardim de Sua
Casa, cuidando
amorosamente de
Suas Plantas,
quando um anjo,
muito belo,
muito jovem,
banhado de luz
azul,
aproximou-se
Dele para
transmitir-Lhe
uma mensagem de
um de Seus
Arcanjos,
Miguel, o
Príncipe
Celeste que
comandava Seu
Exército de
Luz. E que foi
no exato
instante em que
olhou para
aquele anjo que
o Senhor Deus
descobriu o que
ainda faltava em
Seu Plano: anjos
que o homem
pudesse ver,
exatamente como
Ele podia ver
aquele.
O Plano do
Senhor Deus
previa que seria
escolhido para
cada pessoa, a
partir do
momento
alquímico de
sua concepção,
um anjo que iria
acompanhá-la em
toda a sua
trajetória
humana, até que
devolvesse à
Terra a roupa de
carne que lhe
havia sido
emprestada. E,
embora se
tratasse de um
leal
companheiro, que
iria
fortalecê-la,
protegê-la e
inspirar-lhe, e
lhe fosse
possível falar
com ele e
ouvi-lo, em seu
coração, ela
não poderia
vê-lo, a não
ser que em algum
instante
experimentasse
um amor tão
intenso que
conseguisse
penetrar na
freqüência
luminosa onde os
anjos moram.
Para o homem,
pensava o Senhor
Deus, aquela
dádiva não
bastaria. Por
mais grandiosa
que fosse. Por
mais serviço
que envolvesse.
Ele sabia que o
ser humano teria
dificuldade para
lidar com as
coisas que
chamaria de
invisíveis. Que
se atrapalharia
com tudo o que
não pudesse ser
tocado com algum
dos cinco
sentidos que,
equivocadamente,
acreditaria
serem os únicos
que possuía.
O homem
precisaria
também de anjos
que fossem
visíveis.
Feitos da mesma
matéria que
ele. Com os
quais pudesse
brincar com os
brinquedos
humanos. Crescer
junto,
aprendendo,
ensinando,
trocando. Que os
olhassem nos
olhos e o
encorajassem ao
próximo passo
sem uma única
palavra. Com os
quais pudesse
compartilhar os
sabores, os
sons, as
visões, as
falas e as
texturas das
coisas da Terra
e sonhar com as
coisas do Céu.
Que estivessem
ao seu lado nos
dias de sol e
também lhe
estendessem a
mão para
atravessar com
ele o tempo em
que as noites se
fariam tão
escuras que ele
começaria a
duvidar do
amanhecer.
Sim, continuava
a pensar o
Senhor Deus, o
homem precisaria
de anjos
visíveis que
tivessem em sua
vida a mesma
bela tarefa do
anjo que não
podia ver. Anjos
que
permanecessem em
seu caminho
quando tudo
parecesse ter
ido embora. Que
acreditassem
nele até quando
ele próprio se
esquecesse quem
era. Que quando
o cansaço lhe
visitasse e os
apelos da sombra
o convidassem a
desistir,
desembainhassem
a própria
espada para
lembrar-lhe de
que era um
Guerreiro. Que
emanassem para
ele um
bem-querer tão
puro que fosse
capaz de
perfumar até o
que ainda lhe
doesse. Com os
quais pudesse
rir e chorar, e,
sobretudo, ter a
liberdade de
ser.
O homem
precisaria, sim,
de anjos
visíveis com
sangue nas
veias. Que
tivessem dor de
barriga,
mau-humor,
contas pra
pagar, unha
encravada, medo,
dente cizo,
angústia,
raiva, baixo
astral, e toda
uma séria de
chatices humanas
que os anjos
invisíveis
respeitam, mas
não
experimentam.
Com os quais
pudesse jogar
conversa fora.
Torcer por um
time. Cantar
desafinado.
Caminhar na
praia. Trocar um
abraço. E
empanturrar-se
de risada e
bobó de
camarão num
domingo grande.
Que espelhassem
para ele sua
porção humana
e sua porção
divina e lhes
fizessem
parceria no
contínuo
exercício de
integrá-las
durante a
viagem. Que
pudessem servir
de canais para
os toques, os
puxões de
orelha e os
carinhos do seu
próprio anjo
guardião, que,
sem fazer ruído
algum,
trabalharia em
sintonia com
eles o tempo
todo.
E depois de
dividir com
aquele anjo
inspirador as
feições de Sua
Descoberta,
contam que o
Senhor Deus Todo
Poderoso lhe
perguntou o seu
nome, pois seria
com ele que, em
gratidão,
chamaria o anjo
visível que
cada pessoa
encontraria na
Terra.
E o anjo que
inspirou o
Senhor Deus,
maravilhado com
Sua Bondade,
revelou-Lhe o
seu nome:
-
Amigo.
Colaboração
Cibele Menini
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