Tu pensarás em mim, por esta
noite imensa
e erma, em que tudo é um
frio e um silêncio profundo?
Tu pensarás em mim? Por esta
noite, enfermo,
tendo os olhos em febre e a
voz cheia de sustos,
eu penso em ti, no teu amor
e na promessa
muda que o teu olhar me fez
e que eu espero.
(Que dor de não saber se tu
pensas em mim!)
Sob a tenda da noite
estrelada de outono,
que eu contemplo através os
cristais da janela,
junto ao manso tepor da
lâmpada que escuta
— antiga confidente — os
meus sonhos e as minhas
vigílias de tormento, eu
penso em ti, divina.
(E tu talvez nem te recordes
deste ausente!)
Penso em ti. Penso e evoco o
teu vulto adorado.
Penso nas tuas mãos — um lis
de cinco pétalas —
que, em vez de sangue, têm
luar dentro das veias;
nos teus olhos, que são
Noturnos de Chopin
agonizando à luz de uma
tarde de sonho;
na tua voz, que lembra um
beijo que se esfolha.
Penso.
(E nem sei se tu também
pensas em mim!)
Talvez não. No tranquilo
altar da tua alcova,
onde se extingue a luz de um
velho candelabro
como uma lâmpada votiva, tu
adormeces
sorrindo ao Anjo fiel que as
tuas pálpebras fecha
para que tu não tenhas
sonhos maus.
E eu penso
em ti, sem sono, a sós,
angustiado e febril,
em ti, que nem eu sei se te
lembras de mim... |