Vou aproveitar a ‘deixa’ do Tom Coelho e do seu artigo “A dor de uma saudade” e dar ao leitor outro ponto de vista em que pensar.
Antes, quero dizer que não gosto de falar das minhas dores e das minhas emoções cotidianas. Sou meio radical quanto a isto e, embora rabisque uns poemetos, faço a minha catarse através de metáforas e ninguém fica sabendo se aconteceu mesmo comigo ou se estou simplesmente passando para o papel as emoções de outrem. Ou, ainda, se foi uma figura inesperada do pensamento.
Quando falo, por exemplo, da minha indignação com a política devassa deste país, faço-o porque busco divulgar o que penso e agregar pessoas às minhas idéias. Quando falo em Educação, faço-o porque acho que tenho um certo conhecimento para falar do assunto. Mas falar de emoções tão claramente é sujeitar-me a ser piegas e eu aprendi na escola que pieguice não está com nada (?).
Mas lendo o Tom Coelho, me deu vontade de falar um pouco da dor da minha saudade. Concordo com o que ele disse a respeito do adeus. Um ciao, um até logo, tudo é fácil. Mas um adeus dói no fundo da alma da gente. Principalmente o adeus a um filho querido, o único, o melhor, o mais amado...
E esta é a dor da minha saudade.
Não cabe em meu juízo tão racional o fato de que nunca mais nesta vida poderei ver e falar com a minha filha. Não entendo o fato de que nunca mais poderei dar-lhe um abraço apertado e carinhoso. Sentar-me com a sua cabeça em meu colo. Rir da vida juntas. Gastar horas filosofando sobre o mundo e quem vive nele. Comer um sanduíche, tomar um milk shake no Mac Donald's, almoçar naquele restaurante chinês, bebericar a cervejinha no final da semana, assistir aos filmes reclamando dos furos de roteiro. Comer aquela rosquinha que saiu rolando ou aquela panqueca enroladinha depois do recheio. Nem o bolo gelado do Gerson, nem o pudim de leite condensado. Ficar na expectativa do próximo namorado, do próximo emprego, do próximo amigo, do próximo Natal, do ano que vem... da geração da vida, da minha continuidade...
Mantenho ainda as coisas dela do jeito como deixou, na falsa expectativa de que um dia ela voltará. Que gritará lá de baixo, ainda na rua, aquele ‘Momes’ gostoso de ouvir e que chegava antes da campainha do interfone. E ao chegar aqui em cima, me dará aquele abraço apertado, me beijará a cabeça, numa atitude tão peculiar. E me dirá das suas aventuras ou das suas decepções, com o mesmo calor, o mesmo ardor. E se dependurará ao telefone para contatar os amigos para o próximo programa. E me perguntará ao voltar, tarde, fora da hora, por que é que eu penso só em coisas ruins quando ela demora... “Você não pode pensar que eu encontrei um amigo e estava me divertindo com ele? Tem que pensar só em coisa ruim? Tô aqui, momezinha...”.
Tô aqui!!!!!!!!!!!!!!! Momes, mãe, mamãe... Nunca mais.
Esta é, de fato, a dor da maior saudade. O não-ter, não-ser, não-viver, estar agarrado a qualquer coisa para não lembrar que a vida se partiu.
Inclusive exorcizar a dor num artigo que quer mostrar que mais importante que a duração dos momentos, é necessário que se construa a qualidade destes momentos. Não importa que seja apenas nos fins de semana, o importante é aproveitar o tempo.
... E que o Universo permita que você, que lê este artigo agora, nunca tenha que dizer adeus a um filho.
A não ser que seja na hora da sua própria morte.

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