Questiono se há vida fora de mim... De algum tempo até aqui, estou envolta em uma carapaça dura, tétrica, marmórea... internada num silêncio inexpugnável e num isolamento compulsório.
Eu e minhas lembranças, eu e minhas saudades.
Eu e os anos que não voltam mais.
Eu e a minha abandonada irreverência com o mundo e a abusada coragem de alguém sem temor.
Eu e as minhas emoções... que cessaram quando cessou o meu amor, que murcharam quando perdi a vontade de ver o mundo com olhos de boa-vontade e afeto.
Eu e um mundo particular, onde tudo está articulado ao meu jeito, de forma que ninguém mais penetre e dissipe as lembranças e as saudades.
Eu e o meu altar, refeito de deuses pagãos e ritos sem ritual, onde a oração é um lamento de saudade e as velas são lágrimas do meu coração que chora...
Eu e a água, o ar, a terra, o éter e o nada...
Eu e o meu sentimento empedrado, rígido e sólido, bloco monolítico como a pedra de Sésamo, impenetrável.
Eu e a minha fada, que voou o primeiro e derradeiro vôo de liberdade, com braços alados e pernas nadadeiras, que não mais precisam de chão para caminhar.
Tento seguir os seus passos etéreos, mas minha rudeza não me permite abalar-me do chão.
Eu e a minha criança, que já foi menina, mulher, anjo, fada e voltou ao interior do meu eu, para de novo nascer de mim e de novo me fazer-ser.
Eu e o meu medo da vida, meu pavor do futuro.
Eu e as minhas inúmeras negações, não-ser, não-querer, não-poder, não-viver.
Eu e ela, ela e eu, numa contínua troca de amor e gratidão, num mundo em que só cabemos nós duas, a nossa vida e a nossa emoção.
Eu e a minha eterna e infindável saudade, que dói a dor mais doída que alguém possa sentir.
Eu só...
(Com saudades da Viviana, estrela que iluminou a minha vida, por quem tudo foi possível, por quem o tempo parou. A vida só continua pela centelha de luz que ela deixou em meu coração. Eternas saudades.)
|