Toda tarde digo para mim mesmo: afinal,
eis o meu mundo.
O mesmo beijo, o mesmo quarto claro, com seu assoalho brilhante
refletindo o meu passo;
as mesmas paredes brancas me envolvendo com afáveis gestos de
paz;
o mesmo rádio silencioso, entre livros empilhados,
a mesma
estante fechada que a um gesto meu descobre tesouros como velha
mala de pirata.
Afinal, eis o meu mundo.
A mesma insubstituível companhia,
a mesma presença até
quando longe dos olhos,
a mesma voz perguntando, a mesma voz respondendo,
o mesmo odor suave da janta, do tempero cozinhado,
a mesma impressão de quem chega de ombros nus e veste
ajudado um macio agasalho.
Afinal, eis o meu mundo.
Como o pescador solitário, diante das vagas:
- eis o meu mar.
Como o pássaro do dilúvio diante do primeiro ramo:
- afinal, eis a terra !