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Há muito eu te
esperava...
Mas eu queria que quando chegasses
trouxesses nos teus olhos vultos de bonecas;
e a tua boca sorrisse o sorriso dos botões
apenas entreabertos;
e as tuas mãos fossem como as folhas
fechadas
de um livro que ninguém leu;
e a tua alma fosse mais pura do que a fonte
que canta dentro da pedra
e ainda por sobre a terra as águas não
correu...
E tu chegaste...
Mas trouxeste nos olhos sombras estranhas
nuvens dentro de um céu;
e a tua boca sorri o sorriso das rosas
encarnadas
cheias de sol e mel;
e as tuas mãos guardam vestígios de carícias
que murcharam,
e a tua alma, apesar de ser grande e ser
bela,
nos momentos de nossa exaltação,
às vezes me parece pálida e amarela,
como uma folha lida
e já relida
de um romance que andou talvez, numa outra
mão.
... ... ... ...
Ah! Ninguém saberá nunca o quanto eu sou
desgraçado e infeliz na minha dor,
quando ao te amar assim, como louco
um doente,
encontro em teu amor, às vezes, casualmente,
os restos de outro amor!
Retirado do livro
"Os mais belos poemas que o amor inspirou"
Vol I., 1965 |