Há algo em cada mulher que se
tateia como se tocássemos seda.
Não me refiro ao que há de
frívolo ou comum na expressão "como seda", mas a algo mais
radical que se tateia porque não
se sabe e fascina; que é seda
porque especiaria,
porque de procedência outra e
mistério. Há algo em cada
mulher, ou melhor na atmosfera
que envolve cada mulher, que
transforma as coisas e as faz
mais interessantes.
Em torno de cada mulher há um
silêncio; levíssima ausência que
sentimos na espinha.
A atmosfera em torno de cada
mulher recolhe todas as palavras
e, algumas vezes nos leva
também o ar. Diante de certas
mulheres, há paisagens inteiras.
Há mulheres líquidas que olham
como se derramasse o oceano
sobre nós e, outras, diante das
quais pressentimos intimidade
sombria com rumor de águas
fundas. Há mulheres de doçura
múltipla e de uma urgência que
alimenta
as outras que, quando se as vê,
prenuncia-se tormenta. Há
mulheres febris e mulheres
simétricas.
As que emergiram de uma tela e
as que saíram de uma fruta. Há
mulheres que flutuam,
que deslocam-se como um
conceito. Algumas ventam e tanto
que nos sopram num canto;
outras são de lua e nos beijam
na rua. E há aquelas que
perdemos; as que não veremos
nunca mais.
Mulheres que nos invadem ainda,
às vezes como punhais.
Há algo em cada mulher que se
tateia como se tocássemos seda.
No sentido também de como deve
ser sensível o nosso toque. Que
ele não fira. Que não tergiverse
e não desvie. Que seja simples
e inteiro sempre. Que,
sobretudo, nosso toque seja tão
somente um jeito de realçar o
que faz da
seda feminina. O que nos
encanta, além da palavra, o que
desconserta, neste ser que
ilumina. |