Ausência
Vinícius
de Morais
Eu
deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos
que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me verdes
eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz
e a vida
E eu sinto que em meus gestos existem os teus gestos e
em minha voz a tua voz
Não
te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho desta terra
amaldiçoada
Que ficou sobre minha carne como uma nódoa do passado
Eu
deixarei... Tu irás e encontrarás a tua face em outra
face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás
para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque
eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a
tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu
abandono desordenado
Eu
ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais do que ninguém porque poderei
partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das
aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz
eternizada.
Colaboração
Ricardo Moura Faria
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