O pior, para mim, é ter que encontrar-te todo dia,
falar contigo como a uma estranha,
ver-te linda e distraída,
estender-te a mão, em cumprimentos banais,
quando tu és afinal (que importa se não sabes?)
- a minha Vida...
Em vão me confesso num olhar de ternura
que procura teus olhos, além,
onde ninguém pode chegar,
e o coração se alvoroça! e paro, e me contenho,
numa angústia apaixonada...
E linda, e distraída,
tu nem percebes nada...
Iludo o meu desejo, (esse Fauno em travesti
de velho Pierrot)
a imaginar mil coisas de poeta e de louco,
(Ah! se eu fosse o teu Senhor!)
- e te atiro palavras, como serpentinas
displicentes,
para distrair os outros, os intrusos, - presentes
a este singular carnaval
do meu amor...
Ah! se soubesses o quanto és minha,
nesses instantes proibidos
da imaginação,
mas profundamente verdadeiros,
- tu, linda e distraída,
boneca e criança,
talvez acendesses, na distancia dos teus olhos
para os meus olhos marinheiros
e para a minha vida,
alguma esperança. |