Opostos

Marina Fairth

Eu falava em versos - ele em monólogos intermináveis.
Eu acariciava flores - ele programava a produção.
Eu sorria aos pássaros - ele tentava adivinhar o tempo que faria.
Eu sonhava com acácias - ele sonhava com feijão.
Pensava eu em ser artista - ele sonhava com milhões.
Dançava eu, mesmo em tristeza - reclamava ele, mesmo em alegria.
Fazíamos o par perfeito a quem nos observava:
São dois opostos, ora, se completam, se equilibram assim.
Até que um dia se cansou a amante...
Até que um dia se cansou o amante...
De se oporem, contrariarem.
Viram que inútil era a tentativa
Que não vingara a chama, a doce coisa ativa
Que une os corpos e une as almas...
Então, como num passe de mágica
Fez-se a dor, a revelação
De que se pode até aproximar opostos
Mas nunca deles fazer união
Sem que um ou outro se absorva um pouco
Se completando em realização.
E eu continuei falando em poesia - ele em gênero, número e grau.
Eu beijo flores e sorrio aos pássaros - ele caminha entre o bem e o mal.