Florbela Espanca

Nasceu Florbela Lobo, em Portugal, na Vila Viçosa, em dezembro de 1894, filha de união extramatrimonial de Antonia da Conceição Lobo e de João Maria Espanca.
Casou-se no dia do seu décimo nono aniversário com Alberto Moutinho, seu colega de escola e de liceu, mas divorcia-se e se casa novamente em 1921 com o alferes Antonio Guimarães.
Começou a publicar seus escritos na revista Modas e Bordados, mas adulteram seus textos.
Florbela nunca se integrou a nenhum grupo literário, nem nunca foi solicitada a colaborar em qualquer periódico relevante; em 1916 integra-se no apoio da poesia neo-romântica portuguesa com os poemas de mais um malogrado livro: Alma de Portugal.
Não conseguiu encontrar editor para publicar os seus últimos livros, que só viriam a público por mão de Guido Battelli, professor da Universidade de Coimbra, depois da morte de Florbela, em 8 de Dezembro de 1930, por suícidio com barbitúricos no dia do seu trigésimo sexto aniversário.

Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa de conto: "Era uma vez..."

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
 
Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!
 
Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
 
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim...".

Página produzida para o Tempo de Poesia em maio/2011.
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