Eu queria senhora, ser o seu armário
e guardar os seus tesouros como um corsário
que coisa louca: ser seu guarda-roupa!
Alguma coisa sólida, circunspecta e pesada
Nessa sua vida tão estabanada.
Um amigo de lei (de que madeira eu não sei).
Uma sentinela do seu leito, com todo o respeito.
Ah, ter gavetinhas para suas argolinhas.
Ter um vão para seu camisolão
e sentir o seu cheiro, senhora, o dia inteiro.
Meus nichos, como bichos
engoliriam suas meias-calças, seus soutiens sem alças,
e tirariam nacos dos seus casacos,
E no meu chão, como trufas, as suas pantufas...
Seus echarpes, seus jeans, seus longos e afins.
Seus trastes e contrastes.
Aquele vestido com asa e aquele de andar em casa.
Um turbante antigo. Um turbante amigo.
Bonecas de pano. Um brinco cigano.
Um chapéu de aba larga. Um isqueiro sem carga.
Suéteres de lã e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo no meu espelho, correndo.
Puxando, sem dores, os meus puxadores.
Mexendo com o meu interior, à procura de um pregador.
Desarrumando meu ser por um prêt-à-porter...
Ser o seu segredo, senhora, e o seu medo.

 

 

Página produzida para o Tempo de Poesia em janeiro/2012.
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