Cânticos

 

 

Não queiras ter Pátria.
Não dividas a Terra.
Nao dividas o Céu.
Não arranques pedaços do mar.
Não queiras ter.
Nasce bem alto,
que as coisas todas serão tuas.
Que alcançarás todos os horizontes.
Que o teu olhar, estando em tod aparte
te ponha em tudo,
Como Deus.

 

 

Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
Não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que será assim para sempre;
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que continua.
É a tua eternidade...
É a eternidade.
És tu.

 

 

Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
onde termina o céu.
Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde é Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaze-te da vaidade triste de falar.
Pensa, completamente solencioso,
até a glória de ficar silencioso,
sem pensar.

 

 

 

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até onde teres medo de morrer.

E então serás eterno

 

 

Não digas: "o mundo é belo".
Quando foi que viste o mundo?
Não digas: "o amor é triste".
Que é que tu conheces do amor?
Não digas: a "vida é rápida".
Como foi que mediste a vida?
Não digas: "eu sofro".
Que é que dentro de ti és tu?
Que foi que te ensinaram
que era sofrer?

 

 

 

 

Os poemas ora publicados foram retirados do livro baseado nos manuscritos deixados pela autora
e, tal como naquele, são transcritos e reproduzidos em fac-símile, mesmo a ortografia e a sintaxe.

Na presente formatação, não acompanhei os Cânticos como foram impressos.
Escolhi aleatoriamente, sem a preocupação de numerar os poemas tal como estão publicados no livro escrito.